terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

"Talvez não saibam, mas os flashes das fotografias, apesar de serem muitos, não servem para iluminar as ruas da cidade"

Não somos dos que acham que a obra feita tem que ser grande e vistosa para poder provar que há trabalho, que fica para a posteridade pelas melhores ou mesmo pelas piores razões. Por outro lado, somos dos que acham que quando há muita parra, há pouca uva, e seria esta a melhor definição possível para o que temos assistido.


Perdemos a conta ao sem número de ideias, projectos e intenções que a maioria neste executivo já nos apresentou, acompanhados de legendas e retratos bem notórios, diariamente, na imprensa local. Não perdemos foi a conta aos tropeções na transparência e no rigor, que pareciam ser a impressão digital que a Coligação Juntos Por Braga queria deixar na cidade, mas que acabou por passar de bestial a besta em pouco mais de metade do mandato.

Cerca de um milhão de euros foi quanto a Câmara Municipal gastou, nos últimos seis meses, em ajustes directos. Serviços contratualizados por decisão exclusiva do Presidente da Câmara, ao abrigo da autorização genérica de competências que a maioria PSD/CDS fez aprovar no executivo.
Provas de uma traição da mulher de César, que afinal não é nem quer parecer séria. Numa atitude de “eu quero, posso e mando”, o sr. Presidente decidiu sozinho despesas com serviços que, somadas, dão quase um milhão de euros, em total desrespeito pelos eleitos nos órgãos municipais, com tanta legitimidade para participar na governação do município, para além de fiscalizar, quanto ele.


Pois o que tem de ser dito é que a transparência e a proximidade na governação devem consubstanciar-se no respeito pelo papel de todos quantos fazem parte dessa governação, garantindo dessa forma que é com a maior justiça possível que se investe o dinheiro do município, e não se limitarem a manobras de propaganda, como a de abrir as portas da Câmara Municipal a estudantes para verem como trabalham os seus serviços, nomeadamente na área social.

Compreendemos que não ficasse tão bem na fotografia, ou que não fosse possível encontrar um título tão sonante quanto “bem-vindos à vossa casa”, mas com certeza cumpriria melhor o papel da tão necessária prestação de contas, bem mais cara aos munícipes bracarenses do que conhecer as instalações do Pópulo. E por falar em prestação de contas, Sr. Presidente, aguardamos ainda as do São João e as da Noite Branca do ano passado, que estavam prontas há umas semanas atrás, mas que com certeza se perderam entre tantas actividades municipais.

Outra postura que achámos, no mínimo, curiosa, foi a tida relativamente ao financiamento do Theatro Circo. Parece que foi preciso vir um novo Governo para o Sr. Presidente da Câmara agir em conformidade e ir a Lisboa para resolver o que, desde logo, se sabia colocar o Theatro Circo numa posição muito frágil. Já conhecemos a justificação do chumbo do tribunal de contas este ano, mas lembramos que também em 2014 o contrato programa foi chumbado, mas na altura o Governo era do PSD e do CDS, e aí o Sr. Presidente poderá ter achado pouco apropriado ir bater à porta dos seus colegas porque, afinal, foi o PSD e o CDS que criaram a lei que criou todo este problema.

Aproveitamos, claro, para saudar a solução encontrada, num regime de excepção previsto já, inclusive, no Orçamento do Estado para 2016. No entanto, não poderíamos deixar de sublinhar que esta excepção não resolve todo o problema. Este só ficará deveras resolvido com a revogação do regime jurídico do sector empresarial local que veio por em causa a prestação de serviço público às populações.

Mas isto não parece ser um problema para a maioria neste executivo, já que tudo parece ficar resolvido com o Plano de Desenvolvimento Social recentemente apresentado. É surpreendente ler que “o PSD será a espinha dorsal das políticas sociais que serão implementadas no futuro”, tendo em conta que foi o Governo do PSD que mais pobreza causou, com cortes nos salários, nas funções sociais do estado e nos apoios sociais, para além do aumento da jornada de trabalho na função pública, que esta Câmara, a única no distrito e das poucas no país, continua a impor aos seus trabalhadores.

Da nossa parte, podem contar com a defesa das 35 horas tanto para todos os trabalhadores da administração pública, independentemente do vínculo e com aplicação imediata, como para os trabalhadores do sector privado, impedindo que trabalhadores como os deste município tenham que trabalhar mais cinco horas por semana de borla.

Podemos ainda falar da AGERE, empresa cujos lucros chegaram quase aos quatro milhões de euros, sendo 89 % distribuídos entre accionistas da empresa a título de dividendos. Dizia o presidente da Câmara que a opção de não reduzir o tarifário não é política, e sim de gestão financeira, mas política é mesmo isto, Sr. Presidente: gerir de forma a beneficiar os munícipes, o que, no caso, significava aproveitar a margem possível para diminuir o tarifário em vez de permitir que se mantenham margens consideráveis de lucro nos próximos anos para poderem continuar a ser distribuídos.

Mesmo com as oportunidades aproveitadas, como a construção no novo quartel dos bombeiros sapadores, não podemos deixar de nos sentir defraudados: afinal, tal como havíamos alertado na altura, o valor de adjudicação da obra, abaixo do preço base em cerca de 400 mil euros, levaria a derrapagens. Nos prazos temos já a confirmação. Veremos adiante quanto ao custo real da obra. E a verdade é que já vão longos os seis meses que se anunciaram para ter o quartel erguido.

Como dizíamos: as uvas são deitadas fora, o que fica é a parra: muita tinta sobre o que se vai fazer, sobre a ideia do que se quer fazer, sobre os projectos que poderão dar lugar a alguma coisa que fazer...Mas no concreto, pouco, muito pouco, somado aos constantes atropelos à transparência e ao rigor, à proximidade e ao respeito.

Veja-se as ruas da cidade: continuamos com problemas de limpeza, mesmo depois de tantos alertas nesse sentido, inclusivamente com preocupações levantadas quanto à evidente insuficiência de funcionários da AGERE na varredura. Continuamos também, e não por falta de aviso mais uma vez, com problemas de iluminação. Talvez não saibam, mas os flashes das fotografias, apesar de serem muitos, não servem para iluminar as ruas da cidade.
Os munícipes queixam-se, mas parece que a agenda desta maioria passa longe dos problemas concretos que cada um enfrenta: foca-se mais no que dá nas vistas e no que impressiona à primeira.

É claro que as pessoas precisam de Toni Carreira, e de Malafaia, e de festas brancas e de quantas festas e eventos forem possíveis, e que bom é ter um município que se preocupa em agradar a todos os gostos e todos os públicos…No entanto, não precisaríamos de escrutinar a pirâmide de Maslow para perceber que há necessidades e problemas que têm que ser atendidos e que, por mais básicos e pequenos que possam parecer a uma Câmara que gosta de encher páginas de jornal com grandes ideias e grandes projectos, devem ser entendidos como prioridades. Porque são essas necessidades e esses problemas que dizem respeito a todos e a cada um dos cidadãos.

Braga, 12 de Fevereiro de 2016
O Grupo Municipal da CDU